Diplomata de carreira e intelectual por formação, Hugo Lorenzetti Neto estreia na literatura com duas obras, A máquina extraordinária e 24, ambos de poesia e editados pela Zouk. Os livros trazem com humor e ironia fina a descoberta da sexualidade e suas posteriores desilusões amorosas em textos e poesias escritas em diversos lugares do mundo e carregadas de influências artÃsticas do autor.
“Escrevo desde que me entendo por genteâ€, conta o escritor. Em 24, seu début literário, o autor conta que o livro “é resultado de uma experiência queer e gay nos anos 1980 e 1990, quando começo a assumir minha sexualidadeâ€. Nascido em Campinas, ele conta com humor e ironia esse processo. Num de seus versos curtos e bem humorados, afirma: “Imagina nascer gay em Campinas/ que azar menina?â€.
Em “Quadrilhaâ€, versa sobre sua profissão: “muito obrigado pela preferência/há muito sou importante para muita gente de uma forma/ bonita:/ e o nome da especialidade é assistência consular./ mas não quero ser ministro da cultura e/ você não vai lamber meus livros, por favor, nãoâ€.
Sobre o 24, ele afirma que “Este é um livro autobiográfico, mas não 100%â€. A experiência na diplomacia influencia a literatura como experiência de mundo, inclusive com a possibilidade de intercâmbio com escritores de toda a parte. Hugo já morou em Manágua (Nicarágua); Bruxelas (Bélgica), Nova Déli (Ãndia) e em Jacarta (Indonésia). “A viagem é superimportante e vem para a literatura como uma experiência de vidaâ€, afirma. Atualmente ele é chefe do setor cultural da Embaixada do Brasil em Angola e já visitou mais de 70 paÃses.
É pau, é pedra rosa este livro. Sorvete de morango. Huguinho é sagrado e por trás de sua ternura explÃcita não esconde muito bem a diva-barraqueira-irônica-bicha-má que também é. Faz a dramática solitária melancólica, faz a católica do azulejo de banheiro. A puta quer. Fumaça rosa.
Juliana Perdigão – cantora, compositora e instrumentista mineira, em 24
A máquina extraordinária
Escrito seis meses após 24, A Máquina Extraordinária, da Editora Zouk, traz 32 poemas, além de orelha do escritor, poeta e pesquisador Matheus Guménin Barreto.
O livro, escrito em seis dias, é resultado de uma desilusão amorosa iniciada num Carnaval em Recife, quando o autor decidiu expor em poesia a dor – e as ironias – da relação e da separação. “Escrever esses poemas foi uma maneira de organizar a experiência da desilusão amorosa, de desapontamento e de todas as projeções internas que criamos quando nos apaixonamosâ€, conta o autor.
Num dos poemas, intitulado “Charles Darwinâ€, o autor discorre: “não parece muito inteligente/ou robusto/mas a harmonia desse urro de amor/agonizante/dó mi sol/esse espécime está perfeitamente adaptado/ ao fim dos temposâ€.
Influências literárias e artÃsticas
Com influências que vão de psicanálise e crÃtica literária ao cinema, o autor cita como destaques na sua formação a leitura do neobarroco, começando por Néstor Perlongher, antropólogo e poeta argentino, passando por Josely Vianna Baptista, poeta, tradutora e escritora nascida em Curitiba, além dos brasileiros Horácio Costa e Hilda Hilst. A música também é uma influência em seu trabalho, com destaque para Tori Amos e Fiona Apple, “essas mulheres que colocam a inadequação da feminilidade como um todo, inclusive na figura do menino afeminado num mundo regido por valores patriarcaisâ€, conta Hugo.
“Disso tudo é compreensÃvel que eu diga que a palavra que primeiro me vem à mente quando penso n’A máquina extraordinária é a palavra ‘virtuosismo’. Poucas vezes li um livro contemporâneo tão barrocamente virtuosÃstico, e essa exorbitância verbal é chave para sua leitura – a avalanche de registros, de lÃnguas, de referências históricas & musicais & de memes & de barzinhos de esquina sombrios é, em última instância, avalanche de linguagemâ€.
Matheus Guménin Barreto, poeta, tradutor e pesquisador, em A máquina extraordinária
Sobre Hugo Lorenzetti Neto
Hugo Lorenzetti Neto é nascido em Campinas (SP), em 1978. É poeta, tradutor, ensaÃsta, professor e diplomata. Atualmente vive em Luanda, onde dirige o Centro Cultural Angola, como parte das suas atividades na Embaixada. Já visitou mais de 70 paÃses, tendo trabalhado em missões diplomáticas na Ãfrica, Bélgica, Ãndia e Indonésia. É doutorando na Universidade de Letras da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), no programa de Escrita Criativa, onde também tem o tÃtulo de mestre. Como professor, já atuou na Universidad Centroamericana, no Departamento de Formação de Professores de Inglês e também lecionou Português do Brasil na Universidade de Nova Delhi, na Ãndia. Escreve sobre tradução uma vez por mês na revista RuÃdo Manifesto. “24†e “A máquina extraordinária†são seus livros de estreia na poesia. Neste momento, está escrevendo seu primeiro romance e o terceiro livro de poesia, ainda sem tÃtulo.