O professor e doutor em história, Leandro Karnal (60), concedeu uma entrevista à Veja falando um pouco mais sobre seu relacionamento com o cantor Vitor Fadul (27) e a repercussão quando ele revelou ao público seu relacionamento homoafetivo.
“Eu tenho uma certa resistência a pessoas que vivem toda a sua vida privada em público. Não gosto muito, mas atualmente parece que não se posicionar perante o grande público significa concordar com o silenciamento e a repressão. […] Às vezes, ver uma figura pública e bem estabelecida profissionalmente assumindo o que sente pode encorajá-las”, explicou o historiador.
“E eu acho que a minha situação é atÃpica. Em uma tacada só expus três questões demonizadas por parte da sociedade: a homoafetividade, o etarismo e o autismo. Mas estou em uma posição privilegiada. Além de ser branco, tenho uma carreira sólida e, por consequência, sou de classe média. Várias outras pessoas correm o risco de perder o emprego, ser expulsas de casa, até sofrer uma agressão fÃsica caso façam o mesmo que eu”, acrescentou Karnal.
Karnal também comenta que a diferença de idade do casal nunca foi um problema. “A gente brinca entre nós que o ‘velho’ da relação é o Vitor. Ele se autodeclara com 81 anos, porque quem não quer sair, odeia barulho — inclusive por causa do autismo — e quer voltar para casa logo é sempre ele. Eu sou um pouquinho mais dinâmico do que isso. Mas provavelmente não me relacionaria com alguém de 27 anos, se fosse alguém que gostasse de ir para baladas, se embebedar e ouvir rock pesado todo fim de semana”, comentou ele.
O historiador também comenta que tinha um pouco de medo da reação do público e que prefere não rotular sua sexualidade, já que ele namorou homens e mulheres e que não há uma necessidade de posicionamento. “Já namorei homens e mulheres, tenho 60 anos e não cresci em um ambiente livre de homofobia. Ouvi piadas, músicas vexatórias, ironias e ataques a terceiros. Com o tempo, entendi que, quando não há argumentos em uma discussão, um agressor tenta atacar a moral dizendo que fulano é gay”, explicou.
“O rótulo é uma necessidade do observador, não minha”, afirmou ele. “Apontar se sou hétero, homossexual, bissexual é uma necessidade que fala de posicionamento, mas serve mais ao outro para se referir a mim. Eu sou uma pessoa sexuada — e que, neste momento, decidi me casar com um outro homem. Eu não tenho um ‘tipo’ certo de interesse amoroso. Me encantei pela personalidade, criatividade e beleza do Vitor”, pontou.