Até onde você iria por um amigo? Qual o nÃvel de resiliência que podemos alcançar em uma situação de tensão? Qual o limite das ligações que você estabelece para sua vida? Essas perguntas permeiam a mente do espectador em “Amigos de Risco”, filme dirigido e roteirizado pelo pernambucano Daniel Bandeira, em 2007.
Com ideia inicial de ser um curta de baixÃssimo orçamento, o filme é o primeiro longa-metragem de Bandeira que, após ser extraviado em 2008 e uma difÃcil batalha travada para obter nova cópia, enfim, estreia em São Paulo e Rio de Janeiro na17 quarta-feira, 01 de junho, nos cinemas dos respectivos IMS (Instituto Moreira Salles).
“Amigos de Risco” surge a partir de elementos da realidade vivenciada pelo próprio diretor – como a vida na periferia, o submundo recifense, as noitadas no Recife Antigo, a efervescência do movimento Manguebeat, a necessidade de atravessar a cidade para voltar para casa de bacurau (ônibus da madrugada) ou de metrô.
O longa induz a refletir e digerir sobre a máxima de que, segundo Bandeira, “amizade tem um peso (e um preço)â€. O filme relata o tenso encontro de amigos que, após uma noitada, atravessam a cidade e a madrugada – sendo tomados por vários sustos ao longo desse trajeto – para levar um deles ao hospital, após um mal súbito.
“A gente precisa do outro para encarar a nossa própria vida. Às vezes, quando você tenta salvar um amigo, também está tentando se proteger, está desenhando o seu lugar no mundo. Em certos casos, seu altruÃsmo pode ser a expressão do seu próprio egoÃsmoâ€, explica Daniel, que escreveu o roteiro.
A narrativa do filme se comunica muito com a própria história do longa, também recheada de sobressaltos. Rodado no final de 2005 e montado e finalizado em 2007, “Amigos de Risco” teve sua primeira exibição naquele ano no 40º Festival de BrasÃlia. “As latas da pelÃcula chegaram com o finalizador apenas duas horas antes de exibirmos o filmeâ€, conta o diretor.
EXTRAVIO EM UM VOO
Em 2008, no dia da exibição na Mostra de São Paulo, e pouco antes de entrar em salas comerciais, a cópia-zero do filme, finalizado em 35 mm, foi extraviada por uma companhia aérea. Só restou a versão rascunho, do laboratório, não finalizada, que salvou a exibição da Mostra. Contudo, sem recursos para refazer outra cópia, a partir deste momento, o filme entrava num moroso litÃgio jurÃdico, cujo custo maior, além de prejudicar um lançamento comercial, foi o tempo e energia despendidos.
Somente em 2015, após toda a luta em torno do extravio e dada causa favorável ao filme, uma nova cópia foi feita, dessa vez em masterização digital, enquanto a “cópia-zero”, em pelÃcula, foi encaminhada para a Cinemateca Pernambucana. Enfim, naquele ano, o longa era reexibido finalizado no VIII Janela Internacional de Cinema do Recife.
ELENCO
À frente das câmeras, Irandhir Santos dá vida ao personagem “Joca”. O ator havia gravado “Amigos de Risco” pouco antes de brilhar em “Baixio das Bestas” (Claudio Assis, 2007). Até então, o Santos havia trabalhado em apenas um longa (“Cinema, Aspirinas e Urubus”, 2005).
Apesar da ironia de passar grande parte do filme desacordado, em ‘Amigos’, Irandhir se sobressai atuando – seja acordado ou simplesmente sendo carregado. Destaque também para Rodrigo Riszla (“O Céu de Suely”, “Som ao Redor”, “Aquarius”) que, no papel de Benito, levou o prêmio de Melhor Ator do Festival de Cinema de Triunfo. Vale ressaltar aqui a preparação de elenco de Amanda Gabriel, que mais tarde também viria a desenvolver uma trajetória sólida, preparando elencos de filmes como “Amor, Plástico e Barulho”, “Tatuagem” e “Bacurau”.
DESAFIO
Com distribuição da Inquieta Cine, lançar “Amigos de Risco” nos dias de hoje trata-se de um grande desafio. O longo perÃodo em que ficou no limbo do extravio nos conduz a um interessante e contraditório debate em torno do conceito de temporalidade do filme. Isto é, ao mesmo tempo que representa uma obra referência do cinema de autor e um dos pioneiros do novo Cinema Pernambucano, é uma produção que assistiu à toda transição do analógico ao digital; que, durante esse perÃodo, viu nascer novas formas de linguagens e de ferramentas tecnológicas. Tempo este e tecnologia que, para Bandeira, não influÃram necessariamente na narrativa de Amigos de Risco, já que o roteiro também se insere no contexto do ‘utilizar os recursos que nós temos naquele momento’.
“Estrear em salas, depois do que passamos, traz a sensação de missão cumprida, de termos dado a volta por cima. Afinal, o filme praticamente só passa a existir quando você lança ao públicoâ€, explica o diretor. “Sou extremamente grato a esse esforço coletivo que fizemos para trazê-lo de ‘volta’. Foram justamente as boas relações, com pessoas que fui agregando ao longo da vida, que proporcionaram a estreia do filme agora.â€
O longa chega às telas de cinema graças ao trabalho da Vilarejo Filmes e suas sócias, Kika Latache e Livia de Melo, em parceria com a Distribuidora Inquieta Cine, de Mariana Jacob, todas responsáveis pela captação de recursos para que o projeto se concretizasse. As mesmas assinam também a produção e lançamento de Propriedade, próximo filme dirigido por Daniel Bandeira, que já está em fase de finalização.
FICHA TÉCNICA
“Amigos de Risco”
(Brasil, 88 min, 2007, 14 anos)
SINOPSE
InÃcio dos anos 2000. Após um tempo distante da cidade natal, Joca (Irandhir Santos) está de volta. Para comemorar, nada melhor que uma noitada com seus últimos bons amigos, Nelsão (Paulo Dias) e Benito (Rodrigo Riszla). Mas o alegre reencontro vira um pesadelo quando Joca subitamente passa mal. Sem dinheiro, transporte ou comunicação, seus amigos o carregam pela cidade deserta, onde cada esquina guarda surpresas capazes de abalar os mais firmes laços de amizade.
Roteiro, Direção e Montagem: Daniel Bandeira
Produtoras: SÃmio Filmes, Cinemascópio e Vilarejo Filmes
Produção: Kika Latache, LÃvia de Melo, Sarah Hazin, Juliano Dornelles, Cátia Oliveira, Daniel Bandeira
Produtores Associados: Plano 9 Produções e Leo Falcão
Elenco: Rodrigo Riszla, Paulo Dias, Irandhir Santos, Jr. Black, Lilian Kelen, Pierre Leite, Raimundo Branco, Regina Carmem
Assistente de direção: Marcelo Lordello
Diretor de Fotografia: Pedro Sotero
Direção de Arte: Juliano Dornelles e Ananias de Caldas
Som Direto: Phelippe Cabeça
Música Original: Tomaz Alves Souza e Chambaril
Figurino: Ingrid Mata
Preparação de Elenco: Amanda Gabriel
Distribuição: Inquieta Cine
Imprensa: Noticittà Assessoria| Leticia Pontes
DANIEL BANDEIRA – o Diretor e Roteirista
Iniciou no audiovisual em 2001 através de sua produtora, SÃmio Filmes. Como montador, colaborou com vários realizadores do cinema pernambucano, como Kleber Mendonça Filho, Camilo Cavalcanti, Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro. Em 2007, estreou como roteirista e diretor em longa-metragem. De lá para cá, colaborou com a direção dos curtas Sob a Pele (2011), junto com Pedro Sotero e de Soledad (2015), junto com Joana Gatis e Flávia Vilela. Como montador, assinou a edição dos longas O Nó do Diabo (2017), produção coletiva da produtora Vermelho Profundo e de Brasil S/A, de Marcelo Pedroso, pelo qual conquistou o prêmio de Melhor Montagem no Festival de BrasÃlia de 2014. Atualmente, segue com a finalização de Propriedade, seu segundo projeto de longa metragem – uma parceria SÃmio Filmes e Vilarejo Filmes.
Pedro Sotero – o Diretor de Fotografia
Nascido em Pernambuco, onde desenvolveu uma consistente filmografia de curtas e longas-metragens, trabalhou em projetos de jovens e renomados diretores pernambucanos como Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles, Paulo Caldas, Gabriel Mascaro, Leonardo Lacca, Daniel Bandeira, entre outros. Seu sucesso expandiu para o Brasil e mundo, fotografando mais de 15 longas metragens, que incluem três seleções oficiais no festival de cinema de Cannes: Aquarius (competição oficial 2016), Gabriel e a Montanha (semana da crÃtica 2017) e Bacurau (competição oficial – prêmio especial do Júri 2019); também ganhou o prêmio de melhor fotografia por ROJO no festival internacional de San Sebastian (2018). Em 2019, trabalhou na pesquisa, roteiro e fotografia do filme instalação SWINGUERRA, obra selecionada para representar o Brasil na Bienal de Veneza.
Juliano Dornelles – o Diretor de Arte
Juliano Dornelles é roteirista, diretor de arte e diretor. Desde 2004, atua como colaborador criativo em projetos de realizadores como Kleber Mendonça Filho, Daniel Bandeira, Marcelo Pedroso e Leonardo Lacca.
Como diretor e roteirista, em 2011, lançou o curta Mens Sana In Corpore Sano no 64o Festival de Locarno, onde ganhou o prêmio especial do júri. Seu longa Bacurau, co-escrito e co-dirigido com Kleber Mendonça Filho, tornou-se o filme brasileiro mais aclamado de 2019, alcançando a marca de 800 mil espectadores nos cinemas brasileiros e vencendo o prêmio do júri no Festival de Cannes, além de diversos outros prêmios internacionais. Atualmente, Juliano tem dois projetos autorais em desenvolvimento, O Ateliê da Rua do Brum, em fase de pós-produção, e o roteiro original de The Blue Island.
SERVIÇO
Estreia SP e RJ – filme AMIGOS DE RISCO
01 de junho
Rio de Janeiro (RJ) – IMS
São Paulo (SP) – IMS
02 de junho
Porto Alegre – Cine Bancários
Estreia Nacional AMIGOS DE RISCO – 19 de maio
Recife (PE):
°Cinema São Luiz – com debate (19h30)
° Cinema do Museu
° Cinema da FUNDAJ – debate em 21.05 (19h30)
Aracaju (SE) – Cine Vitória
Afogados da Ingazeira (PE) – Cine Pajeú
Fortaleza (CE) – Cine Dragão
Goiânia (GO) – Cine Cultura
Maceió (AL) – Cine Arte Pajuçara
Manaus (AM) – Casarão de Ideias
Palmas – (TO) – Cine Cultural Palmas