O brasiliense André Torquato é um dos protagonistas de “A Herança”, versão nacional do clássico da Broadway “The Inheritance”, de Matthew Lopez, adaptada e dirigida por Zé Henrique de Paula e idealizada por Bruno Fagundes. Em um formato inédito no Brasil, o espetáculo é apresentado em duas partes – cada uma com cerca de duas horas e trinta minutos de duração – e está em cartaz no Teatro Vivo (SP).
“É como maratonar seis episódios de uma série, três em cada dia. A estrutura dramatúrgica utilizada pelo Matthew López se utiliza de ferramentas para criar essas expectativas no fim de cada ato, fazendo com que a plateia se mantenha envolvida durante todo o desenrolar da trama. Ainda que seja possÃvel assistir apenas uma das partes, visto que ambas se resolvem dramaticamente, tenho certeza que o público vai se identificar tanto com a trama e os personagens, que vão correr para assistir a outra”, explica André Torquato.
A história une diversas gerações de homens gays que se encontram para compreender o que a comunidade LGBTQIA+ significa para eles e para o mundo.
“Acredito que uma das maiores mensagens que a peça traz é que nós, como seres humanos vivos no presente, somos responsáveis pela relação entre o nosso passado e consequentemente o futuro. A partir da perspectiva dessa comunidade, a peça expõe a herança que a nossa geração carrega, das perdas e vitórias do passado, e como isso afeta a maneira que nos relacionamentos hoje em dia, com nós mesmos e com o mundo”, ressalta.
Na trama o ator interpreta dois personagens opostos – Adam, um jovem de classe alta de Nova Iorque e Léo, um garoto de programa nascido na pobreza.
“Adam é um aspirante a ator que busca caminhos para lançar sua carreira. Rico, simpático, culto e determinado, ele usa dessas caracterÃsticas para conseguir o que quer. Em contraponto, Léo é um garoto de programa vÃtima de um sistema que o oprime de todos os lados. Mesmo vindo de realidades completamente distintas, ambos buscam entender o seu lugar no mundo”, conta.
Além de André Torquato, o elenco principal conta com Reynaldo Gianechini, Bruno Fagundes, Marco Antônio Pâmio e Rafael Primot. A cenografia é de Zé Henrique de Paula, com figurinos de Fábio Namatame e trilha original de Fernando Maia.
“É um elenco dos sonhos. Temos profissionais de universos muito diferentes, televisão, cinema e teatro, que se propuseram a contar essa história de uma maneira muito bonita. A troca que temos durante os ensaios é deliciosa e eu aprendo diariamente dos cada um deles. Poder estar criando algo tão grandioso junto com essa galera é uma honra”, menciona.
No ano passado, André foi um dos destaques de “Tatuagem“, musical baseado no filme homônimo de Hilton Lacerda. O enredo trazia um grupo de teatro em Recife durante um dos momentos mais obscuros da nossa história, a ditadura militar.
“Ambas as peças falam da comunidade LGBTQIA+ de perspectivas diferentes, uma da repressão durante a ditadura militar no Brasil e a outra a partir de uma visão atual sobre as dificuldades que enfrentamos atualmente. Acho que uma das semelhanças que podemos encontrar é como as nossas relações interpessoais continuam sendo afetadas pela marginalização, e que mesmo com os avanços sociais e culturais, ainda carregamos essa repressão de maneira internalizada”, completa.
Sucesso de crÃtica e do público, a produção teve sua temporada estendida, de dois para sete meses, e garantiu à Torquato o prêmio Bibi Ferreira e o Troféu Imprensa Digital de Melhor Ator Coadjuvante em Musical.
“É sempre bom ser reconhecido, mas ter ganhado por um trabalho como “Tatuagemâ€Â foi bastante especial, principalmente por se tratar de uma produção independente. É um musical que tinha a transgressão por natureza, e que não consegue aporte de patrocÃnio justamente por essa mensagem, então esse prêmio se trata de uma realização enorme”, finaliza.