O carnaval da antiga Veneza
SerenÃssima República de Veneza (Serenìsima Repùblica Vèneta, em vêneto e Serenissima Repubblica di Venezia, em italiano), muitas vezes chamada apenas de SerenÃssima, no nordeste da Itália, com capital na cidade de Veneza.
Foi um Estado que existiu do século nono até 1797 quando, ao ser invadida por Napoleão Bonaparte, foi cedida ao Império AustrÃaco pelo Tratado de Campofórmio.
Na Europa medieval, especialmente em Veneza, o Carnaval era, igualmente, a festa da saciedade e da inversão. A inversão de valores e de costumes vinha desde a quebra da hierarquia até ao que aborrecia ou atrapalhava: o empregado era servido pelo patrão, o pobre ironizava o poderoso, o homem se fantasiava de mulher, num travestismo consentido e incentivado.
E o carnaval passou a representar o contrário do ritual codificado.
DistribuÃa-se comida aos pobres, para que ficassem saciados numa época em que, normalmente, passavam fome.
Todos esqueciam as mágoas e entravam numa espécie de paÃs das maravilhas. Nas festas pagãs, os deuses e heróis eram motivo para ironia e os religiosos também participavam do clima, simulando brincadeiras obscenas.
Máscaras e fantasias
O primeiro registro do uso de máscaras e fantasias vem de uma lei do ano de 1268, que autorizava o porte não somente no carnaval mas, também, durante seis meses do ano.
O anonimato sempre foi uma árvore de sombra frondosa. Atos fora da lei e atitudes transgressoras, subversivas e imorais passaram a ser acontecimentos comuns. E o cidadão veneziano incorporou, durante a metade do ano, o hábito de sair às ruas mascarado e agir como bem lhe aprouvesse.
Durante séculos, essa total impunibilidade adquirida no Carnaval, ao mesmo tempo em que contribuiu para a estabilidade econômica de Veneza, precipitou sua queda.
Cada pessoa desejava aproveitar a riqueza e os prazeres que ela podia comprar e multiplicar.
A festa pagã, que cada vez durava mais, fazia com que os dias da cidade fossem ficando, literalmente, contados.
Começando em outubro, o carnaval tornara-se a grande atração com bailes de mascaras e fogos de artifÃcio, abusos sexuais, bacanais, orgias.
Vinha gente de toda Europa para aproveitar a transgressão consentida e regulada por decreto.
E todo mundo ganhava: os hoteleiros, os donos de restaurantes, os gondoleiros e os fabricantes de máscaras. Transformada em cidade das festas e prazeres, Veneza viu diminuir sua influência polÃtica.
Em 1608, uma lei declarava o uso de máscaras grande ameaça ao funcionamento do Estado. Entre 1799 e 1806, já sob domÃnio da Ãustria, o uso de disfarces passou a ser autorizado somente em festas particulares e assim, acabou o encanto.
Inspiração
O segundo governo austrÃaco (1815-1866) autorizou novamente as máscaras, mas o carnaval não era mais transgressão. Tornou-se uma parada de carros alegóricos ou um momento em que cada um tentava exprimir sua individualidade.
Apesar das mudanças – ou por causa delas – Veneza passou a ser o lugar preferido dos artistas. Wagner compôs lá parte de sua ópera Tristão e Isolda. Georges Sand, Alfred de Musset e Byron viveram belos casos de amor. Rossini, Bellini, Verdi também ali encontram inspiração para suas obras.
Mas os venezianos já não suportavam a censura austrÃaca e, em 1848, Daniele Manin proclamou a República, um breve intervalo no jugo e tentativa frustrada de emancipação.
Em 1866, Veneza se reintegrou ao Reino da Itália e, do carnaval da liberdade total, sobraram apenas as lembranças. A cidade continuou a ser um destino turÃstico disputado, mesmo no inverno rigoroso.