Cole Porter e Linda – um casamento sem sexo

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Há alguns anos, a MGM reuniu os seus maiores talentos musicais para rodar, em Londres e Veneza, mais um filme sobre a vida de Cole Porter, “Just one of those things”, para contar com fidelidade a vida do compositor norte-americano e tendo como fio condutor o estranho e fascinante convívio num casamento sem sexo.

O elenco: Kevin Klein como Porter,  Elvis Costello, Alanis Morissette, Robbie Williams, para o papel de Linda, mulher do compositor, estava cotada Diana Krall – que acabou fazendo uma bela ponta. Mas foi Ashley Judd a protagonista na versão final.

A versão anterior da vida do compositor, “A Canção Inesquecível”, foi produzida pela Warner, em 1946. Cary Grant vivendo Porter. O filme esqueceu de contar que, apesar de casado com Linda Lee Thomas, Porter era homossexual. E a noiva, uma mulher muito mais rica do que ele, elegante, socialite exilada em Paris, não fazia questão de sexo na relação.

Mas nos tempos do Código de Hays isso seria impraticável.

Linda Lee Thomas, a musa platônica de Cole Porter, nasceu em 1883 em Louisville, Kentucky, filha de um banqueiro cujas origens vinham de um signatário da Declaração de Independência.

Chegou à França em 1912, divorciada do miliardário Edward Roussel Thomas, herdeiro de riquíssima família do ramo editorial.

Enquanto casada, vivia cercada por uma riqueza além da imaginação: joias magníficas, iates, cavalos de corridas, inúmeras casas, objetos de arte de valor incalculável.

Muito fragilizada por uma doença respiratória, precisou lidar com a brutalidade do primeiro marido que a espancava para dar vazão a seus instintos agressivos (foi o primeiro homem a matar alguém com um carro nos Estados Unidos).

O casamento

Cole Porter nasceu em 1891 de família milionária de Peru, Indiana. Foi estudante de Direito em Yale. Compositor já famoso internacionalmente, vivia na França sendo considerado símbolo do glamour: a simples menção de seu nome lembrava belos carros, casas suntuosas, os melhores círculos sociais, moda e bom gosto.

Gênio das palavras e da música, ouvi-lo era puro deleite. Linda, desde logo, sentiu-se seduzida pelo charme do compositor, que dominava qualquer ambiente com sua vivacidade e simpatia.

Quando começaram a relação, em 1918, Linda Lee Thomas estava em sua plenitude. Alta, magra, elegante, foi a primeira mulher de seu círculo social a pintar os cabelos.

Vestia-se de maneira discreta, mas seu porte naturalmente majestoso valorizava qualquer modelo. Colecionava arte chinesa antiga, era servida por um batalhão de criados, organizava jantares com qualidade cordon bleu para centenas de convidados, era amiga de todas as cabeças pensantes da época e íntima da realeza europeia.

Ele, um esteta, apreciava a beleza, maturidade e sofisticação da americana divorciada. Ela, mulher cultivada, desejava um companheiro “leve”, que a valorizasse e compreendesse suas limitações sexuais.

Estava formado o pano de cena onde brilhariam estas duas almas tão similares. Desde que se conheceram, a atração mútua foi intensa e uma força poderosa atraiu um para o outro.
Em 19 de dezembro de 1919, realizou-se o casamento com direito a lua de mel “espiritual” na Itália.

O estilo de vida do novo casal seguiu um roteiro fascinante: longas, luxuosas e exóticas viagens pelo mundo alternadas com temporadas no palacete da Rue Monsieur 13, no Quartier des Invalides.

Os Porters mantiveram, durante toda a vida em comum, uma suíte presidencial no Ritz e, depois, no Waldorf Astoria.

Moraram, também, em uma mansão em Cap d’Antibes, na Riviera Francesa e em palácio de 4 andares em frente ao Grande Canal, em Veneza, cujo salão principal podia abrigar até mil pessoas.

Linda dedicou a vida a facilitar e aprimorar a obra de Cole. Fazia-lhe todas as vontades e compreendia-lhe o exibicionismo infantil. Através de seus contatos, abria muitas portas para ele. Em troca, havia a satisfação de ser a companheira de um artista notável e a realização das necessidades afetivas de uma milionária dócil e sem filhos.

Só não conseguiu conviver com as contradições na vida do marido: era nos bares de beira de cais que Cole ia buscar seus corpulentos marinheiros e caminhoneiros e nos prostíbulos os amantes negros que tanto lhe agradavam.

E foi em meio ao triunfo em Hollywood, em 1935, que Cole passou a afrontar seu refinado círculo social desfilando com a nata dos gays da Cidade, jovens atores em busca do estrelato, a quem era apresentado em festas programadas exclusivamente para isso.

Correram algumas lendas sobre uma relação rápida, mas intensa, com John Vernon Bouvier III, o pai de Jacqueline Kennedy.

Muito constrangida com a situação, a elegante Linda resolveu retornar a Paris, preocupada com a exibição pública da homossexualidade de Cole, que poderia trazer danos à brilhante carreira que ela havia ajudado a incrementar.

O Acidente

Em 1937, já separado de Linda, Cole envolveu-se num gravíssimo acidente de hipismo – o cavalo que montava caiu sobre suas pernas, esmagando-as.

Esta tragédia pessoal significou um enorme impacto em seus valores estéticos. Cole era obcecado pela boa aparência mantendo rituais diários de beleza que chegavam à obsessão.

Linda voltou aos EUA para impedir que fosse realizada uma amputação, e acompanhou carinhosamente a internação no Doctor’s Hospital de Manhattan. Permaneceu à beira do leito no decorrer de longa série de cirurgias.

Na volta ao trabalho profissional, incentivou-o a compor mesmo hospitalizado, sendo desta época alguns de seus melhores escores musicais. Para completar a cura, levou-o a visitar Machu Pichu, no Peru, sobre um cavalo com as pernas ainda enfaixadas.

Em 1954, Linda – com a doença pulmonar agravada pelos muitos cigarros que fumava diariamente, corcunda, sem nenhum traço da antiga beleza e andando com auxílio de uma bengala – começou a economizar drasticamente até mesmo em pequenos itens como lanches.

O objetivo era deixar, ao morrer, dois milhões de dólares em “cash” para o marido, além das casas, das joias, dos objetos de arte e das ações.

Porter mergulhou numa profunda depressão após a morte de Linda e nunca mais compôs. Abandonou qualquer cuidado com a higiene pessoal e teve sua perna direita amputada em 1958. Depois da amputação, sua produção criativa, prestigio social e felicidade se desvaneceram. Morreu em 15 de outubro de 1964.

Sempre em segundo plano em relação à pessoa, às glórias, à fama e o sucesso de Cole – que teriam sido consideravelmente menores sem ela – o pequeno epitáfio da lápide no cemitério de Peru, Indiana, onde repousam seus restos é uma revelação:

“Linda Lee, mulher de Cole Porter”.

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